Para além da mentira

Conhecendo um pouco sobre gabinete do ódio e Carlos Bolsonaro

Não é possível se compreender o Gabinete do ódio sem conhecer minimamente quem é Carlos Bolsonaro.

Carlos Nantes Bolsonaro é o segundo filho do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Atualmente, cumpre seu 5º mandato como vereador do município do Rio de Janeiro. É formado em ciências aeronáuticas pela Universidade Estácio de Sá; cursou a faculdade de direito, mas não seguiu com o curso.

Carlos, de todos os filhos de Jair Messias Bolsonaro, é sem dúvidas o mais reservado: não gosta de dar entrevistas; cultiva poucas amizades; desconfiado por natureza; e de temperamento “difícil”, inclusive, dentro da própria família. É um sujeito muito aderente às teorias da conspiração; enxerga inimigos em todos os cantos, por exemplo: por suspeitar de traição, convenceu o pai a demitir alguns ministros, como Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) e Santos Cruz (Secretaria de Governo). Apesar de ser uma máquina de geração de atritos no governo, Jair Bolsonaro o protege acima de suas próprias forças.

De onde vem essa atenção com Carlos Bolsonaro? Há quatro anos, nas eleições de 2018, impulsionado por um uma milícia digital comandada pelo vereador Carlos, Bolsonaro reinou soberano nas redes sociais. Isso rendeu à Carlos Bolsonaro um status altíssimo junto ao pai, ao ponto do presidente atribuir-lhe parte da responsabilidade por sua vitória naquela eleição .

Carlos Bolsonaro, junto com o irmão Eduardo, é o responsável por aproximar o escritor Olavo de Carvalho, já falecido, ao pai. Eduardo e Carlos eram admiradores do escritor, e participavam de cursos oferecidos pelo escritor.

Durante uma viagem presidencial aos Estados Unidos, os Bolsonaros e Olavo estiveram em um jantar na residência oficial do embaixador do Brasil em Washington, durante qual foi homenageado por Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, e um dos inspiradores do pensamento de extrema-direita e supremacista estadunidense. É de Olavo a inspiração da criação da militância política bolsonarista organizada, disse:

  • “a população agora deve pensar não no que o presidente pode fazer por ela, mas no que ela pode fazer pelo presidente”.

Um arroubo esdrúxulo, um plágio de mau-gosto da expressão de John F. Kennedy que dizia:

“Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”.

Mas não ficou por aí, continuou o guru dos Bolsonaros:

  • “A coisa mais urgente no Brasil é uma militância bolsonarista organizada. Note bem, eu não disse militância conservadora, nem militância liberal, nem coisa nenhuma. Eu falei militância bolsonarista. A política não é uma luta de ideias, é uma luta entre pessoas e grupos”.

E foi o que fizeram os filhos do presidente.

O GABINETE DO ÓDIO

O Gabinete do ódio é uma organização extraordinária, extraoficial, que tem seu funcionamento dentro do Palácio do Planalto e que em sua estrutura conta com os serviços de Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes, Mateus Matos Diniz, Filipe Martins, Célio Faria Júnior, e Leonardo Rodrigues de Jesus. Trabalham e despacham no terceiro andar do Palácio do Planalto. Toda a gestão e controle desse mecanismo está nas mãos do vereador pelo município do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.

OBJETIVO GERAL

A desmoralização do Supremo, do Senado e da Câmara visando pregar a desnecessidade de existência dessas instituições e, assim, alcançar uma ruptura constitucional e, também, criar e alimentar uma militância de extrema-direita pró-Bolsonaro utilizando-se de narrativas falsas com base em fake news e da teoria da conspiração.

OBJETIVO ESPECÍFICO: IR ALÉM DA MENTIRA

O Gabinete do ódio GDO, opera muito além de promover ataque aos veículos tradicionais de comunicação de informação (jornais, rádio, TV etc.) e de estimular a polarização e o acirramento do debate político-social no Brasil. A organização utiliza sua estrutura para atacar de forma anônima diversas pessoas (opositores políticos, ministros do STF, integrantes do próprio governo, dissidentes etc.) tudo buscando pavimentar o caminho para alcançar objetivos traçados ideológicos, político-partidários e financeiros.

A ABIN

Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, foi instituída em 1999 pelo governo Fernando Henrique Cardoso como órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, com a função de planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência e contra-inteligência e executar a Política Nacional de Inteligência de mais alto nível do governo, integrando os trabalhos dos demais órgãos setoriais do gênero em todo o país.

O presidente Bolsonaro, sob o pretexto de enfrentar “ameaças à segurança e à estabilidade do Estado e da sociedade”, alterou a estrutura regimental e organizacional da Agência Brasileira de Inteligência – ABIN. As mudanças autorizam, entre outras coisas, que pessoas não concursadas possam ser treinadas para trabalhar na agência, o que comprometeria o órgão e colocaria a sua capacidade de traçar estratégias de contrainteligência em cheque.

Por trás da iniciativa presidencial está a psicose de Carlos Bolsonaro de enxergar traições, conspirações e inimigos por todos os lados. O desejo do vereador carioca é concentrar em suas mãos informações privadas sobre adversários, deputados, senadores, governadores, advogados, juizes, jornalistas, críticos, militantes que se opõem ao governo, dentro de um um órgão paraestatal de informação e espionagem, inclusive, o filho do presidente teria articulado junto ao ministro da Justiça, Anderson Torres, para excluir o GSI de licitações para aquisição de ferramentas de espionagens. O objetivo de Carlos seria usar as estruturas do Ministério da Justiça e da Polícia Federal para criar uma espécie de “Abin paralela” sob seu comando.

Aquela cena do filho Carlos Bolsonaro sentado na parte de trás do Rolls Royce presidencial quando do desfile da pose do presidente não é algo isolado, se traduz agora, sem dúvidas, em um símbolo importante para quem deseja estudar o governo dos Bolsonaros.

A DARKMATTER E A POLUS TECH

A DarkMatter Group (dark matter: matéria escura) é uma empresa israelense composta, em sua maioria, por programadores egressos da Unidade 8200 – uma unidade do Corpo de Inteligência das Forças de Defesa de Israel -, cuja missão é captar sinais de inteligência e decifrar códigos, com origem em hackers de elite vinculada ao exército de Israel. A companhia tem sua sede em Abu Dhabi, e em seu portfólio consta o desenvolvimento de sistemas capazes de invadir computadores e celulares de alvos, inclusive desligados.

A Polus Tech, com sede na Suíça, tem como CEO o programador israelense Niv Karmi, um dos fundadores da NSO Group, empresa dona da poderosa ferramenta espiã Pegasus (Niv é o “N” da sigla NSO).

O gabinete do ódio, leia-se Carlos Bolsonaro, tem mantido conversas em paralelo com a companhia DarkMatter e com a empresa Polus Tech com o objetivo de obter programas espiões.

As negociações com as duas empresas seria para fornecimento de uma ferramenta para espionar opositores, jornalistas e críticos em ano eleitoral. Entretanto, não se tem notícias de que não foram finalizadas ou concretizadas.

O PERIGO É ENORME

Especialistas em tecnologias indicam que uma das técnicas oferecidas pelas empresas é a “infecção tática” de celulares que permite a quem detém os softwares ter acesso ao celular do alvo e a todo seu conteúdo quando o aparelho se conecta a uma rede sem que seja possível o dono do smartphone sequer desconfiar.

UM SÓ CORPO UM SÓ CORAÇÃO

As identidades do GDO e de Carlos Bolsonaro se confundem. Não é possível separar uma da outra. E essa observação deve ir além desse corpo político. Aponta sem dúvida alguma para um perfil complicado dos Bolsonaros: a psicose. Talvez a longa proximidade da família com as milícias e milicianos do Rio de Janeiro tenha produzido, em seus membros, um viés de medo de perseguição, traições, conspirações, conluio e maquinações para morte. De certo introduziu um perfil violento e manipulador.

Ao fim e ao cabo, quando você leitor falar em gabinete do ódio, entenda-o para além da mentira e das manifestações políticas-partidárias. Veja-o como uma ameaça às liberdades, aos direitos individuais da pessoa humana, e da segurança nacional.

You understand? Hope so.

Lauro Fontes
Professor, Escritor e Analista Sociopolítico