Adeus centenária Ford do Brasil

1919 – 2021

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Ford modelo T – 1919.

Custo Brasil, Dólar alto (uma das moedas mais desvalorizadas do planeta), políticas de isolamento do mundo, risco de sanções causadas pela irresponsabilidade com o meio ambiente, governo negacionista na pandemia (o que resulta em atraso maior na retomada econômica) e inúmeros outros fatores, podem ter antecipado a decisão da Ford, que anuncia a paralização imediata das atividades no país.

A montadora, que já tinha encerrado a produção de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 2019, comunicou que vai fechar neste ano as demais fábricas no País: Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka; Taubaté (SP), que produz motores; e Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller.

Argentina e Uruguai permanecerão com suas fábricas normalmente e o Brasil deverá, a partir do fechamento total, importar destes países.

Serão mantidos no Brasil apenas a sede administrativa da montadora na América do Sul, em São Paulo, o centro de desenvolvimento de produto, na Bahia, e o campo de provas de Tatuí (SP).

Ministério da Economia diz que a iniciativa ‘destoa da forte recuperação’ da indústria no País; e o secretário da pasta fala em ‘união de forças’ pela recuperação do setor.

Uma argumentação que não retrata a realidade para a Ford.

Um Ministério da Economia que reconhece que não conseguiu fazer nada nestes dois anos, um presidente que declara que o país está quebrado, afastamento do governo americano e apoio a atos terroristas do trumpismo, com anúncio de que 2022 pode ser pior no Brasil, já seriam argumentos suficientes para a retirada das fábricas do Brasil.

Deixar o Brasil, terá um custo de US$ 4,1 bilhões. Ainda assim, é mais interessante para a empresa.

A decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil terá impacto financeiro de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, conforme informação da montadora durante o anúncio de fechamento de três fábricas.

Cerca de US$ 2,5 bilhões deste total, terão impacto direto no caixa do grupo americano, sendo, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos. Outros US$ 1,6 bilhão decorrem de impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos.

Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, destacou que, após reduzir custos em “todos os aspectos do negócio” e encerrar produtos não lucrativos, incluindo o fim da produção de caminhões, o ambiente econômico desfavorável, agravado pela pandemia, deixou claro que seria necessário “muito mais” para dar sustentabilidade e rentabilidade à operação.

Em 2020, foram emplacados cerca de 2 milhões de carros, conforme dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A Ford foi responsável por 118,4 mil, considerando apenas os automóveis, uma queda de 39,7% em relação a 2019, quando o total chegou a 196,3 mil unidades. O Ford Ka foi o sexto modelo mais vendido no Brasil no ano passado. Em 2019, ele ocupou a segunda posição, segundo dados da Fenabrave.

“A Ford já não vinha apresentando resultados muito felizes no Brasil há alguns anos, algo que se acalorou em 2019, quando decidiu fechar sua fábrica de caminhões para alocar investimentos na China. Agora, com linhas de receitas afetadas, tomaram uma decisão mais enérgica.”

Ricardo Bacellar
Sócio-líder de indústria e mercado automotivo da KPMG no Brasil

As vendas do EcoSport e do Ka serão encerradas assim que terminarem os estoques. A empresa informa que vai trabalhar “imediatamente” em colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano “justo e equilibrado” para minimizar os impactos do encerramento da produção. Primeira indústria automobilística a se instalar no Brasil, a Ford está no Brasil desde 1919.

A secular história que termina, tragicamente para a economia brasileira, depois de tantas conquistas, deixa um vácuo de muitos milhares de empregos na indústria de auto peças, serviços de manutenção automotiva, concessionárias e inúmeros outros setores que sofrerão grande impacto.

Da Redação O Estado Brasileiro
Fonte: Agências de notícias / Estadão / Anfavea